As Festas de São João 24 de junho no bairro da Praia Dos Anjos
HISTÓRIA DO PASSADO
POR REINALDO MARTINS FIALHO
Fato Acontecido
As Festas de São João 24 de junho no bairro da Praia Dos Anjos
Outros pegavam caixotes de latas de querosene vazias e ficavam batendo o jongo (batendo com a mão, ou com a pedra repicando na caixa), nestas orgias, diziam versos e cantavam.
No dia 22 ou 23 de junho, alguns pescadores tiravam a rede de uma das Canoas na praia dos anjos e remavam até o Maramutá, na ilha do Cabo ou Ilha do Farol, como o cabista chamava a ilha do Cabo Frio que é do município de Arraial do Cabo.
eles cortavam madeiras, até madeira de lei, carregavam a canoa para fazerem a fogueira de São João na noite de 24 de junho. Todo o evento na Praia dos Anjos quase sempre era feito no Largo dos Martins, atual Praça Daniel Barreto. Ali também armavam a fogueira e acendiam as 20:00 hs.
À tarde tinha as festas religiosas, em procissão que saía da Igreja Nossa Senhora dos Remédios, ia até a Rua Getúlio Vargas na Praia Grande, onde tem o trevo para a praia, e daí voltavam novamente para a igreja de Nossa Senhora dos Remédios.
Durante a manhã tinha missa, e à noite, o povo dizia que era ladainha.
À noite quando acendiam a fogueira, o povo ficava em volta, vendo a fogueira queimar, e alguns pulavam em sua volta e dançavam o jongo.
Em um dos cantos eles diziam assim: “samba negro, branco não vem cá, se vier, pau há de levar, este canto é oriundo dos negros dos Palmares, em Alagoas, onde se vivia Zumbi.
Na fogueira assava-se batatas, aipim e comia-se com melados.
No jongo cantava se assim: o gato tem serrilha no pau, gato tem serrilha no pau. Isso eu vi cantando o senhor Bié de Porfírio mais ou menos nos anos de 1938. Eu era criança (Reinaldo).
Esse canto era baseado no amor do gato com a gata. Que na hora do amor, a gata gritava muito então eles diziam que o gato tinha uma serrillha no sexo.
À meia noite o povo passava descalço nas brasas da fogueira e diziam que não se queimavam. Porém tinha que ser à meia-noite certa.
Em suas casas as moças faziam sortes para ver com quem iria casar. Entre as sortes fazia pequenos papelotes quadrados com mais ou menos 3 cm de cada lado. Em cada papelote escrevia o nome de cada rapaz, depois enrolava, e dava uma dobra no meio, e colocava em um copo ou prato, ou outra vasilha com água, e botava no lado de fora à noite toda, no sereno.
Na manhã seguinte o jovem ou a jovem ia ver os papelotes, o que estivesse mais aberto lia-se o nome e seria o seu provável cônjuge.
Outro:
À meia noite, o jovem ou a jovem, com uma faca virgem fisgava no centro de uma bananeira sem cachos e deixava a faca enterrada na bananeira. No dia seguinte de manhã, a pessoa ia até a bananeira e a resina que escorreu formava sempre uma letra, e esta era a primeira letra da pessoa com que casaria.
Outro:
Esta sorte é feita com duas pessoas. A pessoa que será sorteada, põe uma tira de pano preto ou outra cor, vendando os olhos, de maneira que não enxergue quase nada. A sua parceira pega três pratos virgens, em um deles bota água limpa, no outro água suja e o terceiro deixa vazio. Põe do lado de fora em lugar onde ninguém mexa, e nem a moça de olhos vendados não possa ver.
À meia noite a parceira segura pela mão da moça de olhos vendados, a coloca a três passos dos pratos e diz que caminhe em frente três passos e pare. Se der distância para colocar a mão direita no prato, sua parceira manda ela baixar a mão até tocar no prato ou na água.
Se tocar no prato vazio, Ah moça se casa.
Se tocar no prato com água suja, o casamento não será feliz.
Se tocar no prato com água limpa o seu casamento será duradouro, e com muitas felicidades.
Isto era crença, e diversão dos jovens. Ainda há muitos outros, que no momento não lembro-me.
O PAU DE SEBO E JORGE BROLHA
Junto da fogueira colocava-se um mastro liso da vela das canoas, e ali enchiam ou lambuzavam de graxa, sebo de carne, e fincavam a uns oito metros mais ou menos da fogueira. No topo do mastro era colocado uma dondoca com uma nota de dez mil réis na mão. Quem conseguisse chegar no topo, podia tirar, e ficar com os dez mil réis. Era muito dinheiro para a época.
Muitos aventuravam-se, e depois abandonavam com a roupa cheia de graxa, com areia e breu, que diziam que segurava, ou firmava as mãos no mastro. Porém o mais persistente era Jorge José Rodrigues, o Jorge Brolha, que só abandonava o mastro quando conseguia apanhar os dez mil réis.
Todos os anos Jorge Brolha era freguês do pau de sebo, ficava todo lambuzado de graxa, e esfregava mãos e pernas das calças na areia, para ver se conseguia se firmar no pau de sebo, mas todo recurso que aplicava era em vão. O pessoal dava gostosas gargalhadas e vaiavam, como faziam com ele nas brincadeiras do judas em sua porta no sábado de aleluia.
Partiu dessas brincadeiras com Jorge Brolha as vaias até hoje na Praia do Anjo, que já imigrou para a Praia Grande através dos jovens. E essas vaias, são muito prejudiciais ao nosso povo, porque deixam as pessoas inibidas com medo de serem vaiadas.
Os promotores de festas, após se divertirem bastante com Jorge Brolha, ficavam com pena, em ver Jorge todo ensebado e cheio de areias que ele passava nas mãos, e roupa, para ver se conseguia subir sem escorregar, mas era muito difícil.
Pegavam uma escada, e encostavam no mastro ensebado e mandavam Jorge subir para pegar o dinheiro. Jorge subia pela escada e quando faltavam 10 centímetros para tirar o dinheiro eles tiravam a escada e Jorge descia veloz escorregando a graxa do mastro sem conseguir pegar o dinheiro, e o povo tanto ria como vaiava.
Até que com Jorge Brolha já muito cansado, eles botavam a escada para Jorge retirar o dinheiro sobre grandes vaias e gargalhadas.
Faziam quentão, era uma bebida que se tomava quente do fogo.
O POTE E O GATO
Tinha também a brincadeira da quebra do pote que era feita da seguinte maneira.
Fincavam dois paus, com um esteio amarrado em cima como se fosse uma baliza. No meio do esteio, penduravam um pote de barro através de uma cordinha. Dentro do pote botavam um gato bem espantado e fechavam a boca do pote, para o gato não sair. Deixavam uns 04 ou 05 pequenos furos para a respiração do gato.
Pegavam um rapaz da festa, vendava os olhos com pano, se possível preto, rodavam ele para desorientá-lo, e davam um cacete para ele quebrar o pote. Tinha cinco minutos para ele quebrar e ganhar um prêmio, ele sair babatando, como falava o cabista, ou tateando, dando cacetadas à esmo. Nessa hora ninguém deve ficar perto porque ele não vê, e pode a pessoa que se aproximar levar uma cacetada.
Quando acerta o pote, e se quebra, o gato sai espantado em grande disparada sob apupos e risos do povo.
Se dentro de 05 minutos aquele não acertar, outro rapaz entrará no lugar daquele.
Às vezes o pote é cheio de balas, e ao ser quebrado a criançada alvoraçada corre para apanhar.
O povo orientava a distância do pote para o jovem que estava com o cacete da seguinte maneira. Quando o mascarado, com o cacete estava longe do pote, o povo dizia “tá frio, tá frio”. Quando ele andava na direção contrária ao pote, o povo dizia “tá gelado”. Quando voltava para a direção do pote, o povo dizia “tá esquentando, tá esquentando’. Quando estava próximo dizia “tá quente, tá quente, tá pegando fogo, tá uma brasa”.
Aí o caceteiro sabia estar próximo e começava a dar cacetadas até acertar o pote.
Reinaldo Martins Fialho
Reinaldo Martins Fialho – Acervo de Família
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