O circo do seu Pedro

HISTÓRIA DO PASSADO
POR REINALDO MARTINS FIALHO

O circo do seu Pedro

Década de 1940

Em 1940, eu ainda era uma criança e ouvia os mais velhos dizerem que no Arraial do Cabo já devia ter de 150 à 200 casas.
Haviam muitas terras devolutas, e as pessoas que não tinham casa, podiam fazer em qualquer lugar que não estivesse ocupado.
Até que políticos da Câmara Municipal de Cabo Frio sentissem que essas terras eram fontes valiosas para ganhar as eleições. E assim sendo, trocavam lotes de terrenos por votos.
Na época, o povo era carente de divertimento como ainda hoje, mas de vez em quando, com bastante espaços de terra, chegavam circos para apresentar seus espetáculos.
O povo gostava muito de circo, especialmente quando tinha um bom palhaço e uma boa rumbeira. Estes eram os melhores artistas na opinião do povo.
A rapaziada, carente de amor, ficava alvoraçada e assobiava “fiu … fiu”, quando no circo se apresentava uma rumbeira dançando e requebrando com as pernas de fora, mesmo cheias de lantejoulas ou meias de renda.

 

O CIRCO DO SEU PEDRO

O circo do Seu Pedro era muito conhecido do povo cabista, e era famoso pelos seus espetáculos.

Seu Pedro chegou no Arraial do Cabo e armou o circo na rua Vera Cruz, na Praia dos Anjos, pelos fundos do Bar CASARÃO.

Ele trazia uma artista muito bonita que era equilibrista, fazia espetáculos em cima de cavalos no picadeiro, era trapezista, enfim, estava sempre presente nos diversos espetáculos. O nome da artista era Cecília.

Aqui no Arraial do Cabo tinha um cidadão de nome Benjamim. Este foi animado por seus companheiros dizendo que a artista Cecília estava olhando-o com bons olhos.

Após o espetáculo, Benjamim dirigiu-se à Cecília e conversaram. Ele a convidou para fugirem e casarem. A artista aceitou, ela tinha um carro-leito onde dormia. O espetáculo ou funções do circo já haviam terminado e todos dormiam.

Benjamim era pescador, rapaz novo, forte e simpático. Altas horas da noite, como havia combinado com Cecília, chegou nas proximidades do circo. Cecília saiu de seu carro leito, levando o que lhe pertencia. Benjamim a abraçou, levando-a para casa de seus pais, que moravam por trás do Clube Guarani, que na época ainda não existia. (Rua Martim Afonso)

De manhã, seu Pedro acordou sem saber de nada, aguardou Cecília sair de seu carro-leito para cumprimentá-la pelo espetáculo da noite, e conversar sobre o próximo espetáculo. O sol já estava alto e Cecília não saía do carro-leito conforme o de costume.

Seu Pedro já desconfiado, foi no carro-leito de Cecília e teve a maior decepção: Cecília não estava ali. Procurou se informar e lhe disseram que ela estava conversando com um cabista e que havia fugido para casar-se com este.

Seu Pedro pegou uma espingarda encheu de pólvora com chumbinhos, pôs no ombro e saiu à procura do cabista Benjamim, mas este foi avisado a tempo e escondeu-se. Seu Pedro voltou, e foi à delegacia na cidade de Cabo Frio apresentar queixa.

O delegado veio com soldados embalados e juntamente com seu Pedro, chegaram na casa dos pais de Benjamim, mas este estava na canoa, pescando. Porém na casa de Benjamim estava Cecília.

O delegado lhe perguntou: “Então Cecília, você deixou o circo de seu Pedro e fugiu com o Benjamim?”

Ela respondeu: “Sim seu delegado, sou de maior idade, vou me casar, não vou voltar para o circo e à ninguém devo satisfação, a não ser aquele que será o meu marido.”

O delegado virou-se para seu Pedro e disse: ”Não posso fazer nada, a moça é de maior idade e têm o direito de procurar o melhor para ela.”
Seu Pedro voltou para o circo e deu ciência que Cecília não voltaria.

O palhaço Jonas, que era também uma atração, disse que sem Cecília ele não continuaria. Juntou os seus pertences e viajou para Minas Gerais.

Seu Pedro, sem condições de funcionar, desarmou o circo e viajou com todos os apetrechos, nunca mais voltando em Arraial do Cabo.

Reinaldo Martins Fialho
Reinaldo Martins Fialho – Acervo de Família