O trem

HISTÓRIA DO PASSADO
POR REINALDO MARTINS FIALHO

Na década de 30, existiu um trem no Arraial do Cabo, ele levava o sal produzido pela Empresa Perinas até o Porto do Forno para que fosse escoado pelos navios.

O trem

Diziam os moradores de Arraial do Cabo, que o trem quando vinha rebocando os vagões, ele vinha cansado, bufando vapor pelos lados como se respirasse. O barulho era, assim: “café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não…”. Quando ia passando no meio da comunidade de Arraial do Cabo, ele apitava de vez em quando, assim: “apriigio”, como se chamasse alguém.
Quando chegava no Porto do Forno, que soltava os vagões, ele trafegava livre do peso para fazer as manobras e andava mais rápido. O barulho que fazia era assim: “sai da frente que te pego, se te pego te esbodego…”.

O TREM NO ARRAIAL

No Arraial do Cabo havia muitas casas de pau à pique, como os índios daqui faziam suas casas. A cobertura era feita com a palha tiririca, que era um tipo de capim serrilhado, com dois metros e retirado dos lugares úmidos da restinga.

O trem que puxava o sal para o Porto do Forno no Arraial do Cabo tinha o funcionamento à vapor e voavam muitas faíscas da lenha queimada na caldeira, queimavam os casebres que ficavam próximos da estrada do trem. Na Rua Dom Pedro II, quase em frente ao BANERJ tinham umas casinhas que constantemente eram queimadas pelo trem.

A água era difícil no Arraial do Cabo. O povo carregava em latas nas cabeças, dos poços artesianos mais próximos e esperavam o trem com uma lata de água na frente de suas casas. Se alguma faísca voava da caldeira em cima da cobertura do casebre, eles jogavam água para evitar o incêndio. Mas o trem não tinha horário para passar e as pessoas costumavam, em alguns instantes, deitar-se junto do trilho e colar o ouvido neste para escutar o trem se aproximando a uns dois ou três quilômetros de distância. Quando escutavam o barulho nos trilhos saiam gritando: “já vem o trem, já vem o trem!”. As pessoas, então, apanhavam o balde de água e vinham para a frente das casas.

Reinaldo Martins Fialho
Reinaldo Martins Fialho – Acervo de Família