Tenente Come Brasa
Essa poesia lúdica que se observa na literatura de cordel
de Cecílio Barros, nasceu da repercussão de um fato ou
tragédia que não se consumou e ocorreu por razões
embaraçadas. Foi o caso do “TENENTE COME BRASA”
que saiu com uma tropa de burros para vender peixe
salgado em um município vizinho, e ao se encontrar
totalmente embriagado passou um telegrama a sua
esposa dizendo: “O Tenente Come Brasa morreu” –
Assinado: Manoel de Moraes.
Wilnes Martins Pereira
Tenente Come Brasa
Leitores prestem atenção
A morte de Come Brasa
Quando veio o telegrama
Direto pra sua casa
Formou-se grande prantina
O povo não perdeu vasa.
Às duas horas da tarde
Chegou esse telegrama
De Manoel de Moraes
O seu amigo de fama
Trataram do funeral
E de preparar a cama
Saiu José de Correa
Quando a notícia alarmou-se
Junto com Quinho, seu filho,
Que no caminho encontrou-se
E Cabinho disparado
Emilia mandou que fosse.
Saíram eles direto
Para ítalo Sampaio
O carro saiu à toda
Como relâmpago de um raio
Para trazer Come Brasa
Foi esse o primeiro ensaio.
A cama já estava ponta
Com o Cristo Crucificado
E as velas brasileiras
O povo já tinha comprado
E um kilo de café
Eva já tinha torrado.
Senhor Paulo de Queirós,
Cacarro e Leonel,
Fizeram logo uma lista
Como grupo mais fiel
Para vir um caminhão
E pagar seu aluguel.
Seu cunhado André Simas
Que é homem muito direito
Quando soube da notícia
Coitado, ficou sem jeito,
Pertencente ao funeral
Os gastos já tinha feito.
As filhas estavam na lenha
Na tarde de sua morte
Saiu Cuba e foi chamá-las
Os gritos não eram fortes
Dizia: seu pai é morto!
Não há filha que suporte.
Essas meninas voltaram,
Coitadas, toda à carreira,
Deixaram a lenha atirada
Lá em cima da ladeira
Dolores chegou na praia
Com seu vestido em bandeira.
Eu nunca vi coisa assim
Nem alarmar tanta gente
Eu por minha vez dizia
Ele morreu de repente
Alarmou-se o Cabo inteiro
A morte desse tenente.
O pessoal esperava
A vinda do caminhão
Preveniram o carpinteiro
Para fazer o caixão
Quem tinha rixas antigas
Já tinha dado o perdão.
Mulheres rezavam preces
Pra alma de Come Brasa
Outros dando o sentimento
Ao povo de sua casa
Dizendo: os anjos Ihe tenham
Debaixo de suas asas.
A noite estava medonha
E a cachorrada latia
De vez em quando aguaceiro
No meio à fuzilaria
Fazia o homem tremer
Aquele que não tremia.
Bem depois das onze horas
Chegava em casa o Tenente
Tocando os seus animais
Trazia os burros na frente
Dizendo certas bobagens
Dando parte de doente.
Veio à noite outra notícia:
– Tenente ressuscitou!
Foram dizer a família
Aí o choro parou
E após onze da noite
Quando ele em casa chegou.
Levou uns dias na cama
Para ver se o povo esquece
Tapado de cobertor
No quintal não aparece
Eu não ia fazer isso
Mas sei que ele merece.
Leitores peço desculpas
Se não foi do seu agrado
Tenente ressuscitou
Que tinha sido finado
Essa é a história completa
De tudo o que foi passado.
Cecílio Barros Pessoa
Autor dessa pagodeira
Escreveu esses versinhos
Debaixo de brincadeira
Tenente fez tudo isso
Por causa da bebedeira.
Cecílio Barros Pessoa
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