A fenda de Nossa Senhora
LIVRO ARRAIAL DO CABO –
SEUS CONTOS E SEUS ENCANTOS
Por Wilnes Martins Pereira
A fenda de Nossa Senhora
Na esplêndida praia da ilha do farol, em seu lado esquerdo, avança uma admirável e imponente colina com aproximados oitocentos metros de extensão. Es- se ponto geográfico termina com o dedo de Deus; pesqueiro com aparente perigo que recebe de frente todo o tempo proceloso que tem em sua trajetória o sentido norte. Quero me referir a uma abertura que, a cem metros antes do Dedo de Deus, expõem-se ao tempo, revelando uma história lendária vivida por nossos antigos pescadores.
A fenda de Nossa Senhora.
Conta à história que pescadores de Arraial do Cabo ao navegar em frente a essa fissura, ouviram um breve canto de veneração. Uma voz fina com som canoro saia daquela abertura e era ouvida pelos pescadores que, ao incitarem todos os sentidos, escutavam-na, claramente, como um poema de louvor a Nossa Senhora. Talvez, segundo comentam nossos nativos, fosse a voz do vento que soprava contra algumas pedras pontiagudas e rachadas, legitimando silvos incessantes para denunciar aos homens do mar, a virgem aparecida que os fitava diante de um cômodo e minúsculo altar de pedras.
Com feição serena e bela, a nossa mãe ora aparecia, ora se escondia, envolto a um fraco nevoeiro que também envolvia aquela ilha solitária. Nossa Senhora da Conceição revelava-se ao povo cabista nos anos idos de mil setecentos e vinte e um.
O mestre de uma pequena embarcação, senhor Domingos André Ribeiro, olhou aquele cenário com muita cautela. Comtemplou a direção da gruta e observou a imagem. Mostrou-a para seus mareantes e pediu silêncio. Tornou a fechar os olhos para não ser surpreendido por uma ilusão de ótica, porém ao abri-los novamente deparou-se com a pequenina imagem da mãe de Deus com seus vinte e seis centímetros de tamanho. Domingos desembarcou e segurou cuidadosamente a minúscula santa e a encaminhou para a igreja matriz de Cabo Frio, sede do então distrito de Arraial do Cabo.
Wilnes Martins Pereira
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