A história do lobisomem Domingos Neto
HISTÓRIA DO PASSADO
POR REINALDO MARTINS FIALHO
A história do lobisomem Domingos Neto
O acidente do trem com o pai de Domingos Neto
Lenda do navio fantasma do porto do Forno Arraial do Cabo – déc. de 40
Dizem ser o lobisomem uma lenda, e aqui no Arraial do Cabo, em cada época o povo elege um ser humano como lobisomem, sempre nas sextas-feiras e com a lua cheia, é que existe a transformação.
Dizem mais, que o homem se transforma em lobisomem, quando de um casal nascem sete filhos masculinos e sem nenhum do sexo feminino entre eles.
Só invalida esta sina, se o mais novo, que é considerado o lobisomem, batizar o irmão mais velho.
Consta que o ser humano carrega esta sina, se transforma em um lobo rolando nos campos em despojos dos animais e olhando embevecido para a lua, como se quisesse abocanhá-la.
Desencanta na madrugada com o primeiro cantar do galo, ou então se alguém lhe der uma paulada ou um corte com faca. O lobisomem tem pavor de faca.
Eu conheci Domingos Neto no Arraial do Cabo, e ele está enquadrado nas características faladas pelo povo para ser um lobisomem.
Era filho de um casal que só tinha oito filhos masculinos e cada qual mais forte.
Diziam até que os oitos irmãos, eram considerados os homens mais resistentes do Arraial do Cabo.
O pai destes era o português mais conhecido como Sr. Silva. Ele trabalhava na estiva carregando os navios de sal, que o trem Maria Fumaça, trazia de Perinas para o citado porto no Arraial do Cabo.
Seu Silva gostava muito de pescar, e quando não tinha navios ou vagões de sal para trabalhar, ele pegava suas linhas e, no cais ou nas pedras do litoral nas proximidades do Porto, ele ficava pescando.
Gostava de viajar sempre nos vagões-plataformas abertos, sem as paredes protetoras. Viajava sentado com as pernas penduradas para fora.
Na Rua Vera Cruz, perto do cemitério de Arraial do Cabo, tinha uma chave do desvio do trem para outra linha, e alguém havia mexido na chave.
Quando chegou naquele local, o trem vinha em velocidade, e o maquinista ao perceber a mudança para o desvio da linha impulsionou violentamente os freios, o trem deu um solavanco.
O senhor Silva caiu e o trem passou com as rodas por cima dele, acontecendo um terrível desastre. Isso aconteceu pouco tempo depois da inauguração do trem.
Sua esposa, eu conheci como Dona Mimina. Eu, Reinaldo, entregava pães em sua casa quando tinha sete anos. Ela morava na Praça da Bandeira atual, perto do Colégio Frederico Vilar no Arraial do Cabo-RJ.
Não tenho conhecimento de sua descendência. Era uma mulher que, embora eu tenha conhecido com uns 55 anos mais ou menos, se cuidava bem, e era muito bonita.
Domingos Neto, filho de Sr. Silva, era um homem resistente, ele pegava duas latas de banha juntas e com 20 quilos cada uma, levantando nos dentes. Ele amarrava um arame amarelo de pescar anchova, chamavam “arame 20”, amarrava na musculatura do braço e arrebentava.
Ele era estivador do Porto do Forno, assim como seu pai, e ajudava a carregar o sal dos navios Perinas 1º, Perinas 2º, do Leão do Norte, do 24 de abril, do Tamoio, do Eva, do Coral e outros que faziam o transporte de sal para o porto do Itajaí em Santa Catarina, sul do Brasil.
Após o trabalho, assim como fazia o pai, ele gostava de pescar garoupa na Ponta de São Pedro, ou pescava marimba com linha e anzol no cruzador Andrada que servia como cais. Hoje esse navio está concretado dentro do cais do Porto do Forno.
Também gostava de pescar com covo, que é um traçado de tiras de bambu no formato de um rim humano, de um metro e vinte mais ou menos.
Na parte côncava, tem uma abertura onde só passam peixes com 03 quilos mais ou menos. O peixe que entra não sai.
Dentro do covo costumava colocar as bandas de bonito “peixe”, sardinhas, vísceras de peixes ou cacos brancos de pratos para enganar os peixes. O covo é jogado no fundo do mar em um dia e recolhido no dia seguinte, para a retirada dos peixes aprisionados.
DOMINGOS NETO E O NAVIO FANTASMA
Neto, certa noite estava pescando no cais que era uma escuridão terrível e onde muitos já haviam se assombrado. Já eram altas horas da noite quando ele ouviu o barulho do motor de uma embarcação que se aproximava: “Fuco, fuco, fuco, fuco”.
Passou a observar e viu na escuridão um navio com mais ou menos 45 metros que vinha atracar no cais.
Ele, acostumado na beira do cais, achou estranho um navio daquele tamanho, preto e em completa escuridão. Não tinha nem os faroletes de navegação, que é obrigatório estarem acesos para evitar colisão. O barulho do motor parou. Naquele momento só se via o barulho da hélice na atracação e um sino que badalava constantemente.
O navio atracou e tudo ficou em silêncio.
Não se via ninguém a bordo e nem os marinheiros para amarrar o navio no cais. Este ficou desamarrado no cais uns 30 minutos. Depois mansamente foi se afastando sem máquinas funcionar, tomou o rumo de leste e desapareceu.
Quando ele estava atracado no cais, Domingos Neto foi ver o nome do navio. Quando ele chegava próximo o nome sumia. Quando ele se afastava o nome aparecia e ele não conseguia ler o nome.
Era um navio fantasma.
Reinaldo Martins Fialho
Reinaldo Martins Fialho – Acervo de Família
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