Causo o circo do Arrelia

HISTÓRIA DO PASSADO
POR REINALDO MARTINS FIALHO
Fato Acontecido

Causo o circo do Arrelia
(Arrelia era também o Palhaço)

Nos anos passados, pouco mais ou menos dos anos 1930, vinham sempre muitos circos para divertir os moradores de Arraial do Cabo. Havia muito espaço, e de dois em dois meses mais ou menos chegava o circo.

O meu avô Joaquim Martins Fialho, os pescadores chamavam-no de Velho Quincas. Ele tinha uma venda no Largo dos Martins, hoje tem o nome de Praça Daniel Barreto.

A venda tinha quase tudo entre secos e molhados bocoran slot gacor hari ini, como era chamado oficialmente. Vendia-se feijão, farinha, carne-seca, bacalhau, vinhos, cachaça, etc. Meu avô tinha também um paiol onde salgavam peixes para comércio. Tinha canoas de rede, a Pituca na Praia dos Anjos, que fazia as pescarias nesta praia, na Praia do Forno, na Praia da Ilha e no Maramutá. E a canoa Maceió na Praia Grande. Também tinha alguns animais, entre este um burro muito macho e preguiçoso chamado Pachola.

Esse burro o meu avô alugava constantemente para os circos, para os palhaços fazerem a propaganda. Porém o burro tinha muito medo de foguetes.

Um dia, chegou um circo no Arraial do Cabo. O empresário do circo foi alugar o burro para o palhaço sair nas ruas propagando o circo juntamente com a criançada. O meu avô arreiou Pachola, e o empresário levou para o circo. Lá já estava a criançada esperando para sair com o palhaço.

Entre eles estavam os meninos Silvio Barros, Chico de Arthur e Bé de Bande. Esses três quando juntavam-se não era mole.

O palhaço fantasiado montava no cavalo com frente para o rabo do burro.

O palhaço já havia combinado com os garotos o que ele falaria e que seria respondido pelos garotos. E assim Silvinho ia puxando o burro e o palhaço gritava “hoje tem, hoje tem”. As crianças respondiam “Tem, sim senhor”.

O Palhaço dizia “Espetáculo do Arrelia”.
Os garotos – “Tem Sim Senhor”
O Palhaço – “É de noite e de dia”
Os garotos – “Tem, sim senhor”
O Palhaço – “Viva a nossa rapaziada boa”
Os garotos – “Viva”
O Palhaço – “Hoje tem marmelada?”
Os garotos – “Tem, sim senhor”
O Palhaço – “Também tem goiabada?”
Os garotos – “Tem, sim senhor”
O Palhaço – “Viva a nossa rapaziada boa”
Os garotos – “Viva”
O Palhaço – “Eu vou ali já volto já”
As crianças – “Vai colher maracujá”
O Palhaço – “Sinhá Aninha o que tem?”
Os garotos – “Marimbondo Sinhá”
O Palhaço – “É por baixo, e é por cima”
Os garotos – “E por todo lugar”
O Palhaço – “Viva a nossa rapaziada boa”
Os garotos – “Viiva”

E assim o palhaço ia percorrendo as ruas do Arraial do Cabo, fazendo propaganda do circo, e o burro sendo puxado por Silvinho Barros.

Quando o palhaço passava no Largo dos Martins montado no burro Pachola, o meu avô Joaquim Martins, o Quincas, que era brincalhão, fez um sinal para o menino Silvinho Barros passar mais próximo de sua venda, com o burro e o palhaço.

Quando Silvinho se aproximou o meu avô pegou um foguetão de três tiros, escorvou, e encostou o cigarro aceso na pólvora. O foguetão faz gip! e deu um arranco da mão.

O burro, que tinha medo de foguete, teve um susto, que deu um salto e saiu aos pinotes deixando o palhaço estirado no chão.

pescadores que estavam na praça e as crianças riram tanto, e foi comentado por muitos dias. O burro correu para o campo, que foram encontra-lo no Barroso, ainda assustado de cabeça em pé.

 

NA PORTARIA DO CIRCO

À noite houve um espetáculo no circo.

Silvinho Barros, Bé de Bande e Chico de Arthur estavam na portaria do circo, pedindo a moça que recolheu os ingressos para deixar eles entrarem, que haviam ajudado ao palhaço e este prometeu dar meio ingresso.

A mulher dizia: “não posso deixar, o patrão já deu os meios ingressos a quem ajudou o palhaço”. Silvinho dizia: “chó moça, me dá o ingresso”. E a moça respondia: “não posso”.

Rua Nilo Peçanha tinha a padaria de seu Zé de Zaé, o padeiro era seu filho Vico Praxedes. Vico achou em casa uma carteirinha vermelha, era carteira de identidade antiga, do Instituto Pereira Faustino.

Vico pegou um retrato seu e colocou na carteira para entrar de graça no circo. Tinha o nome na capa “Polícia Tech”.

À noite chegou na porta do circo mostrou a carteirinha e entrou. A mulher disse: “sim senhor, junto do picadeiro tem as cadeiras das autoridades, pode ocupar uma delas”.

Silvinho, Chico e Bé ficaram observando, e ficaram intrigados por a moça ter deixado Vico entrar de graça. E aqui todos se conheciam.

No dia seguinte, Vico com blusão novo chegou na porta do circo, mostrou a carteirinha e a moça disse: “pode entrar, faz favor, sentar na cadeira das autoridades”.

Quando Vico ia entrando, Silvinho perguntou: “moça, por que a senhora não deixa a gente entrar e deixa aquele moço”, ela respondeu: “ele ontem mostrou uma carteirinha e entrou, e hoje também, aquele moço é autoridade, ele é o subdelegado daqui”. Vico disse: “subdelegado? Aquele é o padeiro mais vagabundo que tem no Arraial do Cabo”, e começou a gritar “bota pra fora, bota para fora.

Um empregado do circo quando viu aquilo, foi falar com Vico. Este fugiu passando por debaixo da cerca de arame farpado que protege o espaço do circo, deixando a metade do blusão novo.

Reinaldo Martins Fialho
Reinaldo Martins Fialho – Acervo de Família