A pedra de Isabel

LIVRO ARRAIAL DO CABO –
SEUS CONTOS E SEUS ENCANTOS
Por Wilnes Martins Pereira

A pedra de Isabel

É de suma importância que toda criança em idade escolar tenha por obrigação conhecer a história do seu município e suas origens, como também, fatos que marcaram a vida e o costume de seu povo.

Quando o Imperador D. Pedro Il e sua esposa Dona Teresa Cristina visitavam importantes Moreira, prepara- da, adequadamente, a pedido da Câmara Municipal de Cabo Frio. fazendas do Estado do Rio de Janeiro, fizeram um rápido repouso em Arraial do Cabo. O casal de nobres foi acomodado na casa do senhor Manoel dos Santos

Após visitar a Praia dos Anjos e fazer suas orações na igreja Nossa Senhora dos Remédios, Dom Pedro ll recebeu a pequena população de Arraial do Cabo que pedia a construção de um cemitério. O Imperador, em companhia de políticos, propôs-se atender tal reivindicação assim que fosse possível.

Nossos nativos mais antigos contam que houve grande discussão a respeito do local aonde deveria ser construído o campo santo. E o feito deveria ser tratado com rigoroso critério, face a rivalidade que existia entre os bairros Praia Grande e Praia dos Anjos. A necrópole teria que ficar no meio das duas vilas, porque não se admitia que um cidadão de um bairro fosse sepultado no bairro rival.
Com o passar do tempo, o povo ainda incrédulo com a promessa de Dom Pedro Il, circulou um boato no Quarto Distrito, que o imperador mandaria alguns representantes seus ao pequeno Arraial do Cabo para tratar de compromisso por ele assumido.
Assim, ainda em 1868, desembarcaram de um veleiro, o Conde d’Eu e sua esposa a Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II e sucessora herdeira do trono, para rea- lizar o sonho do povo cabista: o de construir o cemitério. Por consenso, o local escolhido foi onde existe, até hoje, a necrópole, ou seja; divisa da Praia Grande com a Praia dos Anjos. – Fato consumado.
Nessa mesma data, a Princesa Isabel em visita à fazenda Miranda, de propriedade do senhor Joaquim Ribeiro de Miranda, onde hoje se localiza o Clube House, observou que os escravos faziam trabalhos exaustivos e penalizou-se por eles. O fato aconteceu quando ela descansava sentada a uma grande pedra, em frente à imensa porteira.

Em 1888, com a Lei Áurea assinada e já abolida a escravidão no Brasil, a fazenda continuava com o trabalho escravo. Juca Vieira, passando pela Pedra de Isabel estranhou o fato de os escravos continuarem, penosamente, com seus serviços exaustivos sem nenhuma informação sobre seus benefícios de independência. Aproximou-se deles e falou:

– Seus bobos, vocês ainda estão trabalhando em regime de escravidão? A Princesa Isabel acabou de assinar a Lei que dá liberdade a todos vocês!

Os pobres escravos se rebelando contra o dono da fazenda, e exclamaram:

– Se o senhor quiser ficar rico, que o faça com o próprio suor! – E saíram em correria para comemorar a liberdade.

Conta à história que a pedra ficou mal assombrada em virtude de grandes castigos impostos aos escravos.

Alguns pescadores que por ali passavam altas horas da noite viam negros cavaleiros galoparem em frenéticas disparadas entre nuvens de poeiras. Iam e voltavam com grande velocidade, fazendo, inexplicavelmente, um pequeno percurso sem que fosse possível observar com exatidão a meia volta que os fantasmas faziam. E assim as aparições eram vistas por toda a noite, tendo a Pedra de Isabel como partida e chegada dessa competição funesta.

Wilnes Martins Pereira